segunda-feira, abril 26, 2010


CRÍTICA DE INÁCIO ARAÚJO (CRÍTICO DE CINEMA DA FOLHA) SOBRE O FILME GATO

O cinema pelas bordas (duas notas)

1)

Enquanto o Brasil se apertava atrás de uma vaga para ver "Alice", eu dei uma passada na mostra do Cinema de Bordas, no Itaú Cultural.

Para quem não sabe o que é, corresponde mais ou menos à série Z do passado.

Só que na era do blockbuster, do orçamento alto, o cinema popular fica nas mãos de amadores loucos por produzir imagens, baratíssimas, não raro intratáveis.

No entanto, pensava eu lá, não era eu quem tinha de estar lá, eram os produtores.

Eles teriam a oportunidade de ver "Gato", um curta (22 min.) de Joel Caetano, por exemplo. E depois um filme sobre um maníaco religioso que se põe a sacrificar pessoas.

Bem, "O Gato": é do mesmo autor de "Minha Noiva É um Zumbi".

Faz filmes caseiros, literalmente. A mulher, o sogro e a sogra são atores (a sogra está ótima no filme, aliás).

Não gasta nada. Faz quase tudo na equipe, um pouco que nem o Candeias antigamente.

Seu filme: um gato de três patas exerce um estranho domínio sobre seu dono, levando-o a distorcer radicalmente a relação com a realidade.

Não é tão original assim. Mas algumas imagens são muito boas (como as mãos que saltam da geladeira, por exemplo).

Os diálogos são talvez seu ponto forte. Fazer um gato falar e não ficar ridículo deve ser difícil. Ele conseguiu.

O filme da Bruxa, o segundo, o do maluco religioso, até onde vi é irregular à beça, mas também tem coisas a ver.

É uma nova geração de Bordas, digamos assim.

Não tem mais a ver com aquele bombeiro de Brasília, com o Simião Martiniano, que tinham vontade de fazer, mas eram filmes muito ruins, realmente insuportáveis.

Enquanto eu estava lá pensava que quem tinha de ver esses filmes baratíssimos, de gênero, irregulares, cheios de imaginação, eram os produtores.

O que fazem os produtores?

Sentam numa mesa e esperam cair uma penca de roteiros na mesa. Mandam para um concurso e, se pintar um prêmio, começam a levantar dinheiro para a produção.

Em geral, toda a energia criativa concentra-se nessa parte.

Acho que o Joel Caetano é um desses caras que poderiam crescer muito trabalhando com um produtor criativo (e econômico), que não jogue dinheiro pelo ralo.

A diferença entre essa produção e a produção normal atual, me parece, é que ela existe para existir, pelo prazer de existir.

Não se dá importância. Apenas quer imitar aquelas que são suas referências. No caso de Joel Caetano, horror dos anos 80 e quadrinhos, sobretudo.

FONTE: http://inacio-a.blog.uol.com.br/

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